quarta-feira, 16 de maio de 2012

RISCOS “VERDES”?


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É possível promover segurança e saúde numa economia “verde”?
Nas comemorações do Dia Mundial da SST, a OIT publicou um artigo sobre uma nova “economia verde” e o surgimento de novos “empregos verdes”. Este tema será debatido na Conferência Rio+20 envolvendo as questões de trabalho e meio ambiente.
Trata-se de importante tema para reflexão por parte dos profissionais do SESMT e estudantes na área de SST que vão entrar no mercado de trabalho e provavelmente enfrentar novos paradigmas de produção industrial, processos de trabalho, mas, sobretudo, de novos riscos. É preciso estar atento para que novos rótulos apenas não busquem esconder novos riscos tão perigososos como os já conhecidos.

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EMPREGO VERDE

O termo “emprego verde” refere-se àqueles empregos em atividades dedicadas à proteção da biodiversidade e do meio ambiente. Este conceito evoluiu para considerar também como emprego verde aqueles que contribuem para a eficiência dos recursos e para o desenvolvimento com baixos níveis de carbono nos setores ecológicos e que contribuam para a transformação dos vários setores econômicos em setores verdes.
Para a OIT, o desenvolvimento na direção de uma economia verde significa a percepção de que a atividade industrial que leva à degradação do trabalho e do meio ambiente terá de ser revista na busca de modelos econômicos alternativos.
Entretanto, a discussão de empregos verdes e de segurança e saúde numa “economia verde” acaba levando à discussão sobre os “riscos verdes”. Ou seja, mesmo que certos empregos sejam considerados “verdes”, as tecnologias utilizadas poderão não ser “verdes”.
O problema é que a busca de uma nova postura politicamente correta no trabalho, acaba combinando velhos e novos riscos como por exemplo, no caso dos painéis solares onde os riscos elétricos se combinam ao risco do trabalho em altura.
Vai ficando claro que há uma precipitação em criar estes novos empregos em grande número, ignorando-se a possibilidade de aumento de incidência de lesões e doenças do trabalho, ou até mesmo a morte, antes de serem implementadas medidas de proteção adequadas. Economia verde, empregos verdes e riscos verdes podem representar, na verdade, novas formas de dissimular o mesmo sistema de produção e trabalho gerador dos mesmos problemas para a saúde e segurança no trabalho. Tudo muda, para continuar tudo na mesma.
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RECICLAGEM (FICÇÃO E REALIDADE
NA AVENIDA BRASIL)

Considerada atividade “verde”, a reciclagem é, entretanto, desenvolvida por pessoas que  são normalmente vulneráveis, pobres, muitas vezes mulheres e crianças, que estão continuamente expostos a substâncias perigosas, vidros partidos e agentes patogênicos, e sem qualquer reconhecimento ou assistência social ou econômica. Uma novela da TV Globo (Avenida Brasil) mostra em ficção a realidade dessa situação da forma como ela é descrita no Relatório da OIT e que ocorre na maioria das cidades no país.
Além disso, o tratamento dos resíduos pode gerar perigos resultantes da produção de gases impuros, explosões, substâncias perigosas e da presença de gases em espaços confinados. Os novos riscos incluem nano-materiais e novos tipos de produtos químicos ou do aumento constante dos resíduos eletrônicos. A futura exploração mineira de aterros para encontrar recursos valiosos aumentará ainda mais a exposição a materiais perigosos (imagem: mulher.uol.com.br)
A reciclagem fará cada vez mais parte integrante da concepção dos produtos e da gestão de resíduos. Contudo, as novas tecnologias de reciclagem poderão introduzir novos riscos, pois haverá um maior ênfase na implementação de processos avançados para preservar as qualidades de desempenho dos materiais. Muitos empregos na área da gestão de resíduos que, em teoria são ecológicos, não o são na prática devido à utilização de processos inadequados que têm efeitos nefastos sobre a saúde humana e o ambiente.
Foi observado envenenamento causado por mercúrio, gerado pela reciclagem de lâmpadas elétricas ecológicas que continham mercúrio e envenenamento por metais pesados, traumatismos repetidos, doenças da pele e respiratórias na reciclagem de resíduos metálicos.

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ENERGIA SOLAR

Trabalhadores na indústria de energia solar poderão ser expostos ao telureto de cádmio, uma conhecida substância cancerígena. Mais de 15 materiais perigosos são usados no fabrico de painéis solares. Muitos perigos podem resultar do uso de produtos químicos usados em conjunto com o silício em vários processos de trabalho. Nesses processos utilizam-se vários agentes de limpeza que podem ser tóxicos.
Alguns riscos são semelhantes aos da construção civil, mas são novos para os eletricistas e canalizadores que instalam painéis ou caldeiras de aquecimento de água nos telhados. Entre esses perigos incluem-se as quedas em altura, a movimentação manual, as elevadas temperaturas, os espaços confinados e a eletrocussão durante a fase de construção e/ou manutenção; há ainda um perigo adicional para os bombeiros e residentes e que é causado pelos gases libertados pelos módulos fotovoltaicos em caso de incêndio nos edifícios.

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ENERGIA EÓLICA
Os perigos e riscos na fabricação de geradores movidos por ventos são semelhantes aos da indústria automotiva e das instalações aeroespaciais, ao passo que os perigos e riscos relacionados com a sua instalação e manutenção são semelhantes aos que se verificam na construção civil.
Os trabalhadores poderão estar expostos a riscos químicos devido à exposição a resinas de epóxi, estireno e solventes, gases, vapores e poeiras perigosos, e ainda a riscos físicos provenientes de peças em movimento, bem como os que resultam da movimentação de lâminas durante o seu fabrico e manutenção. Existe ainda o risco de exposição a poeiras e gases resultantes de fibras de vidro, endurecedores, aerossóis e fibras de carbono. Entre os problemas de saúde mais comuns encontram-se as dermatites, as tonturas, a sonolência, as lesões no fígado e rins, bolhas, queimaduras provocadas por produtos químicos e efeitos no sistema reprodutivo. Os riscos físicos associados aos trabalhos de manutenção são: quedas em altura, lesões musculoesqueléticas resultantes da movimentação manual e de posturas incorretas devido ao trabalho em espaços confinados, esforços físicos na subida às torres, eletrocussão, e ferimentos provocados pelo trabalho com maquinaria de rotação e a queda de objetos.

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HIDROELÉTRICAS
Aqui os riscos são análogos aos da indústria da construção e com a transmissão e distribuição da energia elétrica. Incluem lesões devido ao uso de equipamentos mecânicos e ao manuseamento de materiais, perigos elétricos resultantes da libertação inesperada de energia elétrica das linhas aéreas ou subterrâneas durante a sua instalação ou construção em subestações elétricas e da exposição a produtos químicos, como por exemplo ao gás hexafluoreto de enxofre ou aos bifenilos policlorados.

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BIOENERGIA

A produção de bioenergia (biodiesel e etanol) também gera preocupações de ordem ambiental e de SST. Os perigos estão principalmente associados à produção de matérias-primas e são semelhantes aos que se verificam na agricultura e na silvicultura.
A colheita manual da cana-de-açúcar também implica cargas físicas pesadas em ambientes normalmente quentes e úmidos. Em casos extremos, estas situações podem resultar em morte por exaustão devido ao calor.
Durante o processamento térmico, verifica-se a exposição a substâncias cancerígenas, gases, monóxido de carbono, óxidos de enxofre, chumbo, compostos orgânicos voláteis e a quantidades residuais de mercúrio,metais pesados e dioxinas.
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RECICLAGEM E RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS

Na maioria dos países em desenvolvimento, já não se sabe como lidar adequadamente com as quantidades crescentes de resíduos. Muito frequentemente, os resíduos hospitalares infecciosos e os resíduos industriais tóxicos não são separados dos resíduos domésticos antes de irem parar nas lixeiras. As atividades de reciclagem são executadas principalmente por trabalhadores da economia informal.

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DESMONTE NA IND NAVAL

Os principais perigos associados ao desmantelamento de navios incluem a exposição a substâncias e resíduos perigosos, tais como o amianto, os óleos e resíduos de hidrocarbonetos, tintas tóxicas, bifenilas policloradas (PCB), isocianidas, ácido sulfúrico, chumbo e mercúrio. Outros perigos e riscos incluem fatores físicos, mecânicos, biológicos, ergonómicos e psicossociais.
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AGRICULTURA

A agricultura biológica elimina a maior parte dos agroquímicos e combate o uso excessivo e o impacto destas substâncias na saúde dos trabalhadores agrícolas e dos consumidores e no ambiente. Apesar de tudo, necessita de mão-de-obra mais intensiva e é muitas vezes menos produtiva do que a agricultura comercial. Sendo assim, ambos os tipos de gricultura coexistem, tendo as novas tecnologias sido incorporadas na agricultura comercial de maneira a reduzir o uso de agroquímicos, através, por exemplo, do recurso a organismos geneticamente modificados (OGM) que tornam as colheitas resistentes aos insetos.

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CONSTRUÇÃO E REFORMA DE PRÉDIOS

A exposição ao amianto nos trabalhos de demolição e remodelação é particularmente perigosa e difícil de controlar de uma forma absolutamente segura. É evidente que os trabalhadores não estão necessariamente mais seguros quando trabalham em edifícios ecológicos por comparação com os edifícios convencionais.

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ENERGIA NUCLEAR

Os acidentes graves (Chernobyl e Fukushima) e a radiação não rotineira são os elementos que mais preocupações suscitam em termos de ocorrência de danos potenciais, incluindo a exposição dos trabalhadores às radiações ionizantes. O uso da energia nuclear envolve elevado potencial catastrófico dos acidentes com centrais nucleares. A gestão inadequada de grandes instalações muito perigosas e a falta de tecnologia para uma gestão a longo prazo dos resíduos nucleares constituem os aspectos críticos nessa atividade.

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CONCLUSÕES

Na medida em que muitos dos perigos originais persistem e que, em alguns setores são exacerbados pelas novas tecnologias e pelas condições de trabalho, os empregos verdes atuais não se traduzem necessariamente em empregos dignos e em melhores resultados ambientais.
Edição e Compilação: Prof. Samuel Gueiros, Med Trab, Coord NRFACIL

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