quinta-feira, 1 de março de 2012

Enfermeira do Trabalho defende medidas de proteção aos catadores de lixo .

Enfermeira do Trabalho defende medidas de proteção aos catadores de lixo .
 
Enfermeira do Trabalho no Hospital Universitário Pedro Ernesto e professora da Faculdade de Enfermagem Luiza de Marillac, no Rio de Janeiro, Maria Lucia Moura chama a atenção do país para os riscos à saúde dos catadores que manipulam, sem proteção, todo o tipo de material contaminado nos lixões das periferias das grandes cidades.
Na concepção da enfermeira e professora, os catadores precisam ser tratados como trabalhadores e, como tais, usufruir de educação e da assistência das normas relacionadas à Segurança e à Saúde do Trabalhador.
Neste sentido, Maria Lucia tenta romper o preconceito que geralmente estigmatiza os catadores defendendo medidas que possam dotá-los da cidadania que deve envolver todo o trabalhador que exerce sua atividade para o sustento próprio e de seus dependentes.
O Blog do Trabalho fez uma entrevista sobre o tema com a enfermeira que pode ser lida abaixo:
Blog do Trabalho – Os catadores de lixo, na sua visão, são trabalhadores que precisam de amparo para saber dos riscos que correm ao realizar suas atividades?
Enfª. Maria Lucia Moura – Eles precisam de informação e orientação para o manuseio dos materiais encontrados nos lixões. O que se pretende é sensibilizar os responsáveis intrínsecos pelo problema, os grandes gestores, pois conscientizar é difícil porque ninguém conscientiza ninguém. As pessoas se conscientizam em comunhão. Além da preocupação com o ambiente pois um grande problema de saúde pública é o descarte dos resíduos hospitalares. Há o perigo constante de acidentes com agulhas ou qualquer material contaminado descartado junto ao lixo orgânico.
Blog - De que maneira é possível protegê-los das doenças que podem adquirir no manuseio do lixo?
Maria Lucia - Sabe-se que a ausência do descarte correto de pérfuro-cortantes, associada a uma incorreta sistemática gerencial, pode tornar-se responsável por doenças infecciosas, e contagiosas, através da prática de “reaproveitamento” de seringas e agulhas pelos catadores de lixo existentes nos diversos aterros sanitários e que comercializam estes produtos inclusive no tráfico de drogas. A única maneira de resguardá-los e minimizar possíveis acidentes é usar os equipamentos de proteção individual. Isso é possível? Quem sabe? Afinal de contas, são trabalhadores.
Blog - Quais são as doenças que podem acometê-los?

Maria Lucia – São agravos a saúde, determinantes. Agentes etiológicos, diversos. Bactérias, vírus, fungos, parasitas. Doenças como Salmoneloses, Hepatites B e C, HIV, diarréias, doenças respiratórias. Parasitoses como Amebíase, Giardíase, entre outras.
Blog - Qual o papel pode ser dado à Saúde do Trabalhador quanto à educação e proteção desses trabalhadores?
Maria Lucia – São ações originadas das autoridades, incluindo as empresas privadas e uma grande participação da sociedade, já que são trabalhadores. Quem sabe torná-los cidadãos e tirá-los da informalidade, tendo direitos e deveres como todos os brasileiros. Afinal de contas o trabalho de reciclar o lixo não é nada fácil. Até porque a Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador, (PNSST, 2004) afirma que para fins desta Política são considerados trabalhadores todos os homens e mulheres que exercem atividades para sustento próprio e/ou de seus dependentes, qualquer que seja sua forma de inserção no mercado de trabalho, no setor formal ou informal da economia.
Maria Lucia Moura
Maria Lucia Moura
Blog - A senhora acha que a sociedade em geral enxerga os catadores como trabalhadores?
Maria Lucia – Nem toda a sociedade reconhece os catadores como trabalhadores, pois além de viverem na informalidade, não existe a preocupação em fazer com que essa classe possa exercer sua cidadania. É uma atividade conhecida como uma economia marginal e colocada em segundo plano por alguns setores da sociedade.
Blog - De que maneira a Norma Regulamentadora (NR) 21 pode ser usada em benefício dos catadores?
Maria Lucia – As Normas Regulamentadoras não são estanques. Existem as interfaces entre a NR 06, com o uso dos equipamentos de proteção individual e a NR 15, que até estabelece limites de tolerância e critérios para avaliar as operações insalubres. Não podemos esquecer que a NR 01 estabelece disposições gerais quanto à segurança, direitos e obrigações tanto do governo, quanto do trabalhador. Portanto, acredito que a NR 21, quando preconiza e estabelece medidas preventivas nas atividades a céu aberto,  não pode esquecer dos catadores de materiais recicláveis, até porque quando se fala em insalubridade, não pode existir uma atividade  que tenha condições mais degradantes que trabalhar manipulando dejetos.

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